Data-se dos anos 60, o momento em que norte-americanos repercutiram reivindicações democráticas, expressas pelo movimento dos Direitos Civis.

A pauta tratava da segregação racial, da discussão étnica, da equidade social, do respeito para com as liberdades individuais e do reconhecimento da comunidade negra.

Mobilização que foi defendida, inclusive, por pessoas brancas, que lutavam para triunfar os ideais liberais e progressistas.

A partir disso, viu-se a ascensão de Martin Luther King e, nessa atmosfera, o gênero soul foi enredado. O propósito era transformar as adversidades sociais em melodia.

Estilo que teve tamanha efervescência, que mesmo com a eclosão do rock and roll nas décadas de 60 e 70, era o soul — combinação de gospel e rhythm and blues — que tocava nos tímpanos dos negros norte-americanos. Porque o momento pedia conscientização, comunhão e anseio por justiça.

Nas caixas de som dos guetos, a voz de James Brown ecoava: Say it loud: I’m black and proud!” (“Diga alto: sou negro e orgulhoso!”). Frase originalmente de Stephen Bantu Biko, ativista antiapartheid da África do Sul.

Todavia, devemos recordar que a origem da música negra (black music) está submetida à vinda de africanos escravizados para a América do Norte.

Pois foi com o spiritual (cântico dos escravos das lavouras de algodão), que se originou o blues, o jazz, o rock — e, claro, o soul. Gênero que exaltou as matrizes africanas, a partir das melodias que retratavam a precária condição dos negros estadunidenses.

Vale ressaltar, inclusive, que o estilo também agregou o slogan black power, para celebrar uma cultura que, naquela ocasião, era vista como marginal.

E os cantores que se destacaram por enaltecer a identidade negra foram: Aretha Franklin, Ray Charles, Sam Cooke, Dionne Warwick, Diana Ross, Marvin Gaye e Al Green.

Diante disso, vejamos, agora, três músicas importantes para o movimento negro:

Georgia on My Mind – Ray Charles

Inicialmente, teve a sua composição realizada por Hoagy Carmichael e escrita por Stuart Gorrell, em 1930.

Contudo, nos anos 60, foi a versão de Ray Charles que a deixou mundialmente famosa.

Isso porque o cantor foi banido de sua cidade natal (Albany, localizada no estado americano da Geórgia, no Condado de Dougherty), por não cantar para uma plateia segregada.

Entretanto, após 21 anos desse episódio, em 1979, Ray toca a mesma canção na Assembleia Geral Estadual, que decide adotar Georgia como um hino local.

Mississippi Goddam – Nina Simone

Publicada em 1964, rapidamente serviu de referência para os ativistas. Dado que a letra discorre sobre o assassinato de quatro crianças negras, numa igreja do Alabama, em 1963.
A música enfatiza o preconceito e a segregação racial existente nos EUA.

Say It Loud, I’m Black And I’m Proud – James Brown

Escrita e lançada em 1968, a canção também aborda a discriminação contra os negros norte-americanos. Mas não só, pois enfatiza o empoderamento necessário para lutar contra a injustiça dominante.

Fica claro, portanto, que o soul teve grande influência para o desenvolvimento da cultura afro-americana, principalmente por combater o racismo.

Com o gênero, permanece o aprendizado de que o respeito e a equivalência devem, constantemente, vigorar entre as raças e as etnias.

Da mesma forma que a busca por justiça ser ato contínuo para erradicar a intolerância.