A humanização dos conteúdos segue fidelizando colaboradores e consumidores

Penso que, diante de cada existência, diferentes existências coexistem. Que a condição humana, por isso, é fundamentada na interseccionalidade da ambiguidade; na confluência de êxitos e desacertos. Logo, refletir sobre o impacto das tecnologias (como as inteligências artificiais) para a comunicação corporativa, também é atividade complexa e multifacetada.  

Isso porque, já na década de 60, Marshall McLuhan, educador e filósofo canadense, entendia que a supracitada tecnologia, na sociedade, serviria como uma “extensão do homem”. Porém, hoje, o que a realidade nos reserva é a indagação sobre qual será a dimensão que essa “extensão” terá. 

Pois, como estamos inseridos em um cenário de produção em larga escala, com excessos informativos, narrativas imagéticas, em ambientes digitais — que são espaços “nulodimensionais pixelizados”, segundo Vilém Flusser —, consequentemente, certas atribuições corporativas foram impactadas pela IA Generativa, pelo ChatGPT e por softwares de automatização de tarefas. 

Ocorre que, se por um lado, conseguimos, com essas ferramentas, a partir de prompts, fazer perguntas, escrever releases, blog posts e desenvolver textos para as redes sociais; por outro prisma, desafios em relação à precisão, à acurácia e à autenticidade são suscitados. Posto que as distorções, as violações de propriedade intelectual, as informações enviesadas e os dados inverídicos, não são incomuns nessas tecnologias. 

Mais: mesmo que elas simulem o discurso humano, não é outorgado a essas inovações, a prerrogativa de efetuar planejamentos, raciocinar criticamente e ter sensibilidades oriundas do aprendizado social. 

É inevitável que, com essa pluralidade, acabamos agindo “com o saber explícito de nosso não-saber” — de acordo com o sociólogo alemão Jürgen Habermas. Porque temos ciência das adversidades, mas não dispomos de poderes que freiam a evolução algorítmica, nem domínios que paralisam a capilarização das máquinas. 

Porém, enquanto a transparência conserva a reputação institucional e mantém a confiança dos stakeholders, é a humanização dos conteúdos que segue fidelizando colaboradores e consumidores. Uma vez que, havendo a desmaterialização da comunicação, principalmente nas empresas, institui-se a perda da alteridade, e cria-se a indiferença nas interações. 

Não à toa, “a empresa madura, grande e internacional, que quer permanecer no mercado pelos próximos 50 anos, deve investir, também, em valor social, em responsabilidade empresarial, para melhorar o ambiente”, falava Luciano Floridi, notório filósofo italiano, do campo da Ética da Informação.

É sobre estimular, portanto, uma comunicação que impulsiona o bem-estar e as trocas entre diferentes hierarquias. Uma comunicação que, mesmo passando por sucessivos processos de digitalização, não transforma a presença e a distância, em aspectos equivalentes. Todavia resguarda o humano de sua singularidade e minimiza a incidência de comportamentos mecânicos e inexpressivos.