Alunos de escolas particulares são duas vezes mais aprovados para o ensino superior
Celso Dario Unzelte, jornalista, comentarista esportivo, escritor, pesquisador e professor universitário, ao lembrar-se de sua trajetória escolar para os alunos da Faculdade Cásper Líbero, disse: “Eu fiz o meu primário todo de graça, fiz escola de Estado à noite, o Gualter era uma escola estadual à noite. Nunca paguei para estudar. Meus pais nunca pensaram em pagar para eu estudar. Eu tive três filhos e nunca pensei em não pagar para que eles estudassem”.
Tal como ele, hoje, muitos são os pais que nutrem o mesmo sentimento, quando pensam na qualidade e no ensino educacional, que os seus rebentos vão receber. Assim, quando há na família condições para o investimento em uma formação acadêmica, a opção tende a ser pelo ensino privado, em detrimento ao público.
Pois, nesse caso, custear uma mensalidade possibilita melhor acesso a conteúdos pedagógicos, como laboratórios, bibliotecas, salas de aula, equipamentos multimídia, merenda e banheiros em bom estado de conservação. O que, consequentemente, reverbera na instrução discente e os números mostram o motivo.
Segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais de 2018, é notável a desigualdade no acesso ao ensino superior. Somente 36% dos alunos que frequentaram o ensino médio em escolas públicas entraram numa faculdade. Enquanto quem veio da rede privada foi de 79,2% — ou seja, mais do que o dobro.
Outro elemento que reforça essa problemática foi produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com as secretarias estaduais e municipais de educação. E Édison Carlos, da Folha de São Paulo, publicou o seguinte:
“Das 116,5 mil escolas de ensino infantil no Brasil (alunos de 0 a 6 anos), 8,5% não possuem serviços essenciais de infraestrutura, como saneamento básico (acesso à água e coleta dos esgotos) e/ou energia elétrica. Significa dizer que quase 10 mil escolas não dispõem do que há de mais elementar. Somente 9,4% das creches e 12,6% das pré-escolas de zonas rurais possuem sistemas de esgotamento sanitário. Das 131,6 mil escolas do ensino fundamental (alunos de 6 a 14 anos), 41,6% estão ligadas à rede de esgoto, 52,3% dispõem apenas de fossa e em 6,1% não existe nenhum sistema de esgoto sanitário. Em 8,2% das unidades da rede fundamental — 11 mil escolas — não há sequer um banheiro.”
Evidentemente, com essa situação, disposta aos menos afortunados, manter o estímulo para frequentar as aulas é tarefa hercúlea. E a evasão ocorre, portanto, pela precariedade e carência de recursos. O que é, igualmente, atestado pelos fatos.
Segundo os resultados obtidos pelo Censo da Educação de 2017, realizado pelo Ministério da Educação (MEC), houve diminuição no número de estudantes do ensino médio. Em 2013, o total era de 8,314 milhões de matriculados. Mas, em 2016, foi para 8,133 milhões e, em contrapartida, em 2017, para 7,930 milhões. Nessa etapa, a taxa de evasão foi de 11,2%.
Diante disso, retomo ao título deste texto: Como não pagar pela educação? Posto que os resultados são desalentadores. Consegue ir além, somente, quem paga alto por uma formação. E, infelizmente, com a crise no qual o país submergiu, a recessão contribuiu negativamente para a arrecadação tributária, o que impactou ainda mais a educação.
Como evidencia a reportagem da Folha, o ensino público tem largado em desvantagem na maratona pedagógica. E análises comprovam que quem realizou o ensino privado, entra duas vezes mais na faculdade, do quem fez a rede pública.
Logo, com as escolas infantis e de ensino fundamental (também públicas) que não possuem banheiros adequados e saneamento básico, o que devemos esperar? A escapatória tem sido preferível à convivência em um ambiente depauperado.
Mais: como consequência de toda essa negligência, vimos, no último dia 15 maio, protestos em inúmeras cidades do país, contra o congelamento no repasse das verbas do ensino básico ao superior.
Foi a primeira manifestação para combater as medidas do ministro da Educação, Abraham Weintraub, do governo de Jair Bolsonaro. No caso, o repúdio ao corte de R$ 1,7 bilhão dos gastos discricionários (não obrigatórios), de um total de R$ 49,6 bilhões.
Em termos percentuais, isso equivale a 24,84% e 3,43%, do orçamento geral das universidades federais. Os gastos não obrigatórios são: água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas.
Sim, os gastos principais foram chamados de não obrigatórios e passaram por cortes!
E os estudantes públicos, inevitavelmente, ficaram ao léu; o que coube protesto.
Em síntese, a música Estudo Errado, de Gabriel, O Pensador, resume todas essas adversidades:
“Encarem as crianças com mais seriedade/ Pois na escola é onde formamos nossa personalidade/ Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios/ Quem devia lucrar só é prejudicado/ Assim cês vão criar uma geração de revoltados”.