O filme O Diabo Veste Prada, de 2006, dirigido por David Frankel, conta a história de Andy Sachs (Anne Hathaway), uma jornalista recém-formada na Northwestern University, que busca melhores oportunidades profissionais.

Ela, então, vai até Nova York, para conseguir um emprego, mas, o que conquista, é um cargo como assistente de Miranda Priestly (Meryl Streep), a editora-chefe da revista de moda Runway.

O problema foi que, além de não saber nada sobre esse mercado, Andy também não se interessava pelo universo fashion.

Por isso foi hercúleo acompanhar o linguajar dos colegas, os termos técnicos, as prioridades e a forma de se vestir do local. Aliás, os seus trajes viraram motivo de piada e de ridicularização, por parte de Emily Charlton (Emily Blunt), outra assistente de Miranda.

Ela achou que não se adaptaria, mas foi só uma questão de tempo
(Foto: Divulgação)

Todavia, esse desconforto pode ser explicado pelo entendimento sociológico. Pois será pela noção de “campo” — ou de “campos sociais”, que aparece com Kurt Lewin e com Pierre Bourdieu —, que se constituirá o conjunto normativo simbólico, que norteia valores, valida comportamentos e representações coletivas.

Ou seja, deixando o academicismo de lado: o grande entrave para Andy foi, justamente, a sua dificuldade para adentrar no chamado “campo”, no qual estava inserida. A atribulação por entender e interiorizar o funcionamento do seu local trabalho.

Além disso, outro conceito sociológico que enreda essa nativa é o “habitus”. Em razão de que ele atua na compreensão e na sistematização do ambiente, e esclarece as regras do jogo que está sendo jogado. Noção que, para Sachs, igualmente faltava.

Contudo, mediante a repetição das tarefas e a incorporação das atribuições, a personagem não só aprendeu o que deveria fazer, mas, também, a melhor forma de entregar o que lhe era solicitado. 

A transformação é evidente: Andy sem e com o “habitus” (Foto: Divulgação)

A prova disso é a cena em que Andy consegue o “impossível”: o manuscrito de Harry Potter. De modo que não somente cumpre com uma demanda, mas vai além: porque efetua duas cópias, encaderna e envia para as filhas de Miranda, que estão a caminho da casa da avó.

Assim, quando absorve, por completo, o modus operandi da revista, Sachs não somente se ressignifica, como impacta todo o seu coletivo: com o namorado, que não apoiava a sua vida; com os amigos, que tinham pensamentos variados sobre o seu emprego; e com o próprio trabalho, cujos colegas passaram a respeitá-la.

Andy, portanto, diante da nova postura, revelou o “habitus” do seu “campo social”.